E aqui no Brasil, a editora Paralela, já adquiriu os direitos da obra, o primeiro livro se chamará "Tão Perto" e contará a história de um casal em seus altos e baixos, idas e vindas que dura anos, ambientada em Manhattan.
Sinopse: Lily desperta algo que Kane pensou ser cínico demais para sentir. O relacionamento deles é muito volátil e erótico o que torna tudo ainda mais intenso quando ela descobre um segredo que irá removê-la da vida de Kane para sempre. Ou não? O destino coloca Lily volta no caminho de Kane… embora suas sortes tenham se revertido dramaticamente.
E para quem está curioso, no final de "Todo Seu" a autora disponibilizou o primeiro capítulo, pra quem ainda não tem você pode ler aqui...
Capítulo 1
Sua semelhança com as fotos que o sr. Black admira tanto é impressionante. Sem
dúvida faz o tipo dele: cabelo preto sedoso, olhos verdes reluzentes, pele clara e lábios vermelhos.
Cumprimento os dois com um ligeiro aceno de cabeça. “Boa noite. Posso guardar seus casacos?”
O homem a ajuda a tirá-lo, e aproveito para olhar ao redor, assegurando-me de que os garçons estão ali, oferecendo canapés e bebidas e recolhendo copos e pratos de maneira discreta.
Manhattan se revela pelas janelas que vão do chão ao teto da cobertura, em uma infinidade de luzes. É uma recepção de gala em homenagem a uma nova start-up. O Black organiza muitas festas, cercando-se de pessoas como se isso fosse capaz de dar a ele a vida que não traz dentro de si.
Sua casa é uma profusão de vidro, aço e couro, sem qualquer cor ou sentimento.
Mesmo assim, é um lugar confortável, ainda que não seja muito convidativo, mobiliado com peças grandes cuidadosamente posicionadas para deixar o vasto espaço amplo e arejado. É o local ideal para exibir a tempestade turbulenta de poder que é meu chefe.
Às vezes, pergunto-me se sua preferência por preto e branco é um reflexo da visão que tem do mundo. Incolor. Sem vida.
Observo o sr. Black por um momento, à espera de sua reação diante da convidada.
Vejo exatamente o que imaginei: ao pousar os olhos nela, uma quietude repentina domina sua energia incansável, para então dar lugar a um olhar ávido. Ao examinar a mulher, sua mandíbula se tensiona.
Os sinais são sutis, mas noto a decepção e o despontar da raiva.
Ele queria que fosse ela. Lily. A mulher cuja imagem enfeita seus aposentos privados.
Eu não a conheci. Ela foi embora da vida do sr. Black antes que eu começasse a trabalhar para ele. Sei seu nome só porque meu chefe comentou uma vez quando estava bêbado, numa noite atormentada. Sei o poder que Lily tem sobre ele; posso senti-lo quando olho para seu rosto na enorme impressão em tela pendurada sobre a cama dele.
As fotografias de Lily são o único vestígio de cor em toda a casa, mas não é isso que as torna tão impressionantes. São seus olhos, a confiança absoluta e o desejo feroz que contêm.
Quem quer que Lily tenha sido, amou Kane Black do fundo do coração.
“Obrigada”, diz a morena, enquanto seu acompanhante me passa seu casaco. Está falando comigo, mas o sr. Black já chamou sua atenção, e seu olhar está fixo nele. É um homem impossível de ignorar, uma tempestade sombria contida apenas por pura força de vontade.
Kane Black foi eleito há pouco tempo o solteiro mais cobiçado de Manhattan, já que o último detentor do título anunciou em rede nacional que havia se casado secretamente. Com menos de trinta anos, já é rico o suficiente para pagar meu salário, um mordomo de sétima geração e impecável linhagem britânica. É um jovem carismático, do tipo que atrai as mulheres em detrimento do seu sentido de autopreservação. Minha filha garante que sua beleza é incomum e que ele tem um magnetismo de animal selvagem, o que diz ser ainda mais atraente. Ela diz também que seu ar de inatingibilidade é irresistível.
Receio, no entanto, que seja mais do que aparência. Tirando seus muitos casos sexuais, o sr. Black faz jus ao nome.
Entregou seu coração a Lily, e ficou sem ele quando ela foi embora. Restou apenas a casca de um homem que amo como um filho.
“Você a colocou para fora?”
Na manhã seguinte, o sr. Black entra na cozinha, trajando um impecável terno de alfaiate e uma gravata com um nó perfeito, comprados depois que comecei a trabalhar para ele. Eu o eduquei na arte das roupas feitas sob medida para cavalheiros, e ele absorveu a informação com uma sede de conhecimento que aprendi ser insaciável.
Por fora, eu mal podia ver o jovem inculto que me contratara. Estava transformado, uma tarefa à qual se dedicara com ferocidade obstinada.
Eu me viro e coloco seu café da manhã na bancada, dispondo o prato perfeitamente entre os talheres de prata que já estavam lá. Ovos, bacon, frutas — o de sempre. “Sim, a srta. Ferrari saiu enquanto o senhor estava no banho.”
Uma sobrancelha escura se ergue. “Ferrari? Sério?”
Que ele não tenha sequer perguntado o nome dela não chega a me surpreender, apenas me entristece. Elas não significam nada para ele. Apenas se parecem com Lily.
O sr. Black pega o café, provavelmente considerando seu plano de ataque para o dia, a última amante já dispensada de seus pensamentos para sempre. Ele dorme raramente e trabalha muito. Tem rugas profundas em ambos os lados da boca, que não deveriam existir em alguém tão jovem. Já o vi sorrir e até já o ouvi rir, mas a diversão nunca chega aos seus olhos.
Uma vez comentei que ele deveria tentar aproveitar mais tudo aquilo que havia conquistado. Ele respondeu que aproveitaria melhor quando estivesse morto.
“Bom trabalho na festa ontem, Witte”, comenta, distraído. “Como sempre.” Sua boca se curva num meio sorriso. “Nunca é demais dizer o quanto aprecio seu trabalho, é?”
“Não, sr. Black. Obrigado.”
Deixo-o ler o jornal enquanto termina o café da manhã. Pego o corredor até a parte privada do apartamento, que ele não compartilha com ninguém. A bela srta.Ferrari passou a noite no lado oposto da cobertura, um lugar livre do espectro visual de Lily.
Paro à porta da suíte principal, sentindo o resquício de umidade do banho recente. Meus olhos são atraídos para a enorme tela pendurada na parede diante de mim. É um retrato íntimo. Lily está numa cama desarrumada, os braços delgados emaranhados num lençol branco, o longo cabelo escuro sobre um travesseiro amarrotado. Seu desejo sensual é intenso e evidente, os lábios parecem avermelhados e inchados por beijos, as bochechas pálidas estão ruborizadas, os olhos apaixonados estão semicerrados, as pálpebras pesadas de ardor.
Como será que ela morreu? Um acidente trágico? Uma doença terrível?
Era tão jovem. Gostaria de ter conhecido o sr. Black quando estava com ela. Devia ser uma força da natureza.
É uma pena que duas chamas tão ardentes tenham sido apagadas antes do auge.
Atrás do volante da Range Rover, ouço o sr. Black dar ordens pelo celular. São quase oito da manhã, estamos no trânsito, e ele já está profundamente mergulhado na gerência dos vários braços de seu império em crescimento.
Manhattan fervilha à nossa volta, um fluxo intenso de carros em todos os sentidos. Nas calçadas, pilhas de sacos de lixo esperam a coleta. A visão me incomodou quando cheguei à cidade, mas agora sei que são apenas uma parte do ambiente.
Morando aqui, aprendi a desfrutar de Manhattan, tão diferente dos vales verdejantes da minha terra natal. Não há nada que não possa ser encontrado nesta pequena ilha, e a energia das pessoas… a diversidade e a complexidade… é incomparável.
Meus olhos passam dos carros para os pedestres. A rua de mão única à nossa frente está bloqueada por um caminhão de entrega. Na calçada à esquerda, um homem barbudo controla com destreza meia dúzia de coleiras, acompanhado por um grupo de cães animados em sua caminhada matinal. À Direita, uma mulher com roupa de academia empurra um carrinho de bebê na direção do parque. É um dia bonito, mas os arranha-céus e a copa das árvores enchem a rua de sombras. Buzinas começam a soar com a lentidão do trânsito.
O sr. Black prossegue com as negociações com facilidade e autoconfiança, a voz calma e assertiva.
Os carros começam a se mover lentamente, até que vão aumentando de velocidade. Seguimos em direção ao centro. Por um curto período de tempo, pegamos uma sequência de sinais verdes. Por fim, nossa sorte acaba, e paro no semáforo.
Um mundo de pessoas atravessa a rua apressado à nossa frente, a maioria com a cabeça baixa,
algumas com fones de ouvido, que devem oferecer algum alívio à cacofonia da cidade agitada. Confiro o relógio, certificando-me de que estamos na hora.
Um ruído de dor repentino faz meu sangue gelar; um lamento estrangulado e vagamente desumano. Virando a cabeça depressa, olho para o banco de trás, alarmado.
O sr. Black está quieto, os olhos escuros como carvão, a pele bronzeada drenada de toda a cor. Seu olhar acompanha o movimento dos pedestres na faixa à nossa frente.
Olho na mesma direção, em busca do que o assustou.
Uma morena magra se afasta de nós, correndo para tentar chegar ao outro lado da rua antes de o sinal abrir. O cabelo é curto na nuca, alongando-se um pouco mais nas laterais e envolvendo o queixo. Não parece em nada com os cachos luxuriantes de Lily. Mas, quando a mulher se vira para caminhar pela calçada, acho que reconheço seu rosto.
A porta traseira se abre violentamente. O sr. Black salta assim que o sinal fica verde. O táxi atrás de nós buzina, mas ouço meu chefe gritar por cima dele:
“Lily!”
A moça se vira na nossa direção. Então tropeça. E fica imóvel.
Seu rosto empalidece tanto quanto o do sr. Black. Vejo seus lábios se moverem, vejo o nome que pronuncia. Kane.
Todo mundo conhece o belo rosto e o sucesso do sr. Black, mas o reconhecimento chocado da moça é íntimo e inconfundível. Como o sofrimento desesperado que é incapaz de esconder.
É ela.
O sr. Black olha na direção do trânsito, então se lança em meio aos carros em movimento, quase causando um acidente. A sinfonia de buzinas se torna ensurdecedora.
O som brusco sacode Lily visivelmente. Ela começa a correr, abrindo caminho por entre a multidão na calçada, em pânico, o vestido esmeralda funcionando como um farol no meio da aglomeração.
E o sr. Black, um homem que consegue o que quer sem esforço, vai atrás dela.
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